O conceito de planos correspondentes
Quando falamos da narrativa clássica muitas vezes alguns pequenos detalhes são essenciais para que o público não seja desligado da história por variações técnicas, hoje falaremos de um dos conceitos mais básicos, ainda assim essenciais, para a construção de um diálogo eficiente em uma cena: os “match shots” ou planos correspondentes.
Diálogos e o over the shoulder
O primeiro passo é entender o que é o plano “over the shoulder”: trata-se de um plano composto pelos dois atores, com um deles servindo como referência, geralmente fora de foco e próximo a câmera. Nada melhor que uma cena para ilustrar a técnica básica em ação.
Planos correspondentes
Respeitando-se a regra dos 180° teremos sempre um ator mais à esquerda do quadro e outro mais à direita quando ocorrer o corte. Isto gera continuidade espacial e visual entre os olhares deles para que o público não ache nada estranho e se desconecte da história por alguma variação ou erro técnico.
Apesar de simples, existem alguns detalhes na cena que podem ser a diferença entre uma sequência que funciona muito bem ou alguma com problemas narrativos. Lembrando que esta é a base da técnica, quanto mais experiente e confiante você estiver, mais variações poderá fazer de acordo com as necessidades narrativas do seu filme.
Características técnicas
Os planos correspondentes padrão trabalham com a mesma lente em ambas as gravações, o principal motivo é que a mudança radical de lentes muda todo o espaço físico de um plano para outro e altera outras características, como profundidade de campo.
Além da lente igual, as distâncias entre a objetiva e o assunto, assim como entre a câmera e a linha imaginária de 180° mantêm-se as mesmas (como na figura acima). O ângulo gerado entre o assunto e a linha perpendicular ao eixo 180° também se mantém o mesmo neste abordagem.
Montando a câmera com esta disposição é possível ter um plano base e a partir dele fazer ajuste necessários que o diretor ou diretor de fotografia acham interessante para a cena, no caso de uma equipe sem experiência, tem-se o plano base que sabemos que irá funcionar na edição.
Exemplo mais complexo
Temos ao final do vídeo um exemplo menos básico para ilustrar como executar o mesmo princípio de distância e disposição de câmeras.
Exemplo e feedback
Por fim, um exemplo de over the shoulder com slider feito por estagiários orientados pelo diretor de fotografia Shane Hurlbut, veja a cena e depois o feedback de Shane sobre o plano pronto.
Na sequência o feedback de Hurlbut sobre o resultado final:
“This example was shot by my cinematography interns.The slider was specifically designed to keep an OTS shot consistent. After viewing what they cut together, I instructed them that they had crossed the line, that a dirty OTS was much tighter, that they had moved too much, the moment needed to feel like you weren’t sliding at all. I let them make mistakes because this is the best way to learn. It is about being obsessed with the subtle nuances of the actors’ movements, anticipating them.”
Em livre tradução:
“Este exemplo foi gravado pelos meus estagiários em direção de fotografia. O slider foi pensado especificamente para manter o over the shoulder consistente. Após ver o corte final, eu os disse que passaram um pouco do ponto, um over the shoulder “sujo” deveria ser muito mais próximo, eles se moveram demais também, deveria parecer que o movimento não era apoiado em um slider. Eu os deixo cometerem erros, pois esta é a melhor maneira de aprender. É sobre estar obcecado com as nuances sutis dos movimentos dos atores, antecipando-as.”