Cinema 101 – A regra dos 180º
No nosso primeiro post da série “Cinema 101” falamos um pouco sobre o Master Shot e agora chegou a hora de falar sobre a famosa regra dos 180º que é aplicada tanto no cinema narrativo, quanto em transmissões de broadcast.
Para isso contaremos com a ajuda do vídeo feito por Matt Workman, onde através de um software 3D foi possível ilustrar de maneira muito pedagógica a lógica da utilização da regra em situações dentro da narrativa clássica.
Mas o que é esta regra?
A “regra” (explicaremos mais à frente o motivo das aspas) dos 180º parte do pressuposto que é necessário criar um eixo imaginário no campo de ação e manter seu ponto de visão dentro deste espaço e qual o motivo para isto?
O cinema narrativo de forma geral não quer seu espectadores confusos e desconectados da história, o mesmo ocorre com transmissões broadcast, principalmente em esportes, eles não querem que você esteja torcendo para o time que ataca para a esquerda e, de repente, este time esteja atacando para o “outro lado”.
A figura acima ajuda a ilustrar muito bem o que seria este eixo e onde, por exemplo, estariam posicionadas as câmeras para um diálogo “over the shoulder”.
Caso uma câmera estivesse posicionada fora do eixo criado, ela iria gerar confusão ao espectador assim que o corte fosse de uma personagem à outra, principalmente se não houver nenhum plano geral que situe a ação antes do corte para o diálogo.
O mesmo ocorre em transmissões, por exemplo, às câmeras obedecem sempre um eixo do campo e não há cortes para o “outro lado”, pois isso confunde a pessoa assistindo por algum tempo.
Um ótimo exemplo disso seria assistir aos melhores momentos de um jogo feito do lado “oficial” do campo e então assistir aos mesmos lances feitos por alguém na arquibancada do lado oposto. No exemplo acima uma das personagens fica mais à esquerda do quadro, enquanto seu olhar é direcionado para o lado oposto.
Já a segunda personagem fica mais à direita e com o olhar voltado para a esquerda, isso gera a continuidade visual no plano, sem esta continuidade o corte para uma narrativa clássica fica muito prejudicado.
Caso a conversa seja entre a mulher ao centro e a mais à esquerda, basta “recriar” o plano imaginário e obedecê-lo.
Agora a personagem à esquerda continua na mesma disposição espacial, mas olhando para a pessoa ao centro da mesa.
Já a pessoa ao centro obedece a continuidade visual definida e olha para onde esperaríamos seu olhar no “mundo real’.
Também é possível gravar o plano com as três pessoas à mesa, o eixo ainda continua simples para ser visualizado. No exemplo acima foram inseridos os cinco posicionamentos de câmera para executar as conversas que foram citadas anteriormente.
Geralmente estes planos começam em um geral e a razão para isso é que o plano geral situa toda a espacialidade para quem está assistindo, dessa forma o espectador se familiariza com o ambiente de maneira sutil, enquanto iniciamos a cena.
Depois disso não importa qual a sequência de cortes entre as personagens, respeitando os 180º e mantendo o eixo, o espectador sempre saberá de maneira inconsciente onde cada uma está.
Durante a cena também é possível sempre retorna ao plano geral ou a algum plano conjunto, caso o editor ache que o posicionamento esteja ficando muito confuso para quem assiste.
Quando seguir as regras
Assim como no primeiro “Cinema 101”, vamos deixar claro que estas regras não são imutáveis e muito menos impossíveis de serem quebradas, mas isso não muda uma das verdades mais repetidas no cinema: é preciso conhecê-las para que você possa quebrá-las.
De forma geral a “responsabilidade” por manter a continuidade visual dos 180º acaba caindo sobre diretor e diretor de fotografia, mas isso não exclui momentos onde até mesmo eles ficarão confusos se o espectador receberá a mensagem correta e o editor também pode participar da discussão em momentos muito complexos.
Assim como não aplicar a regra é uma escolha totalmente possível e viável de acordo com a necessidade narrativa da cena, o que Matt fez neste curto tutorial foi um passo-a-passo de como funciona esta proposição e o motivo para aplicá-la, cabe a você assimilá-la para que possa dizer sim ou não à regra de acordo com suas intenções.
Cinemasters 2.0
Matt Workman é mais um dos palestrantes do Cinemasters 2.0, o evento será exibido gratuitamente entre os dias 08 e 09 de dezembro e nele Matt falará exatamente sobre movimentos de câmera que fazem a diferença e para isso utilizará uma técnica quem vem crescendo muito entre diretores de fotografia, a pré-visualização de imagens 3D.
Inscreva-se no site: cinemasters.com.br e não perca nenhuma das nove palestras com os diretores!