O que é Temperatura de Cor?
A maneira como nossos olhos percebem a cor e luminosidade é muito peculiar, eles sempre se adaptam para deixar o que é branco com cara de branco, já as câmeras são um pouco menos eficientes e percebem a cor de maneira bem mais assertiva, isso nos leva a um conceito presente em toda gravação: a temperatura de cor.
Temperatura de Cor
Quando falamos de temperatura de cor estamos falando de propriedades da luz branca, foram séculos até que Isaac Newton demonstrasse que a luz branca na verdade é constituída pela superposição de um espectro de cores.
Depois disso ainda demorou mais um tempinho para que a temperatura e o espectro de cores fossem relacionados, principalmente pelos estudos do alemão Max Planck.
A figura ao lado mostra o que é definido como Planckian Locus, e é relacionada ao caminho que a cor executa em um determinado espaço cromático à medida que um corpo negro é aquecido.
Ela tem seu caminho iniciado em ondas de rádio, passando por microondas, infravermelho, até chegar a comprimentos de onda visíveis aos olhos humanos.
Começando por tons vermelhos (com uma temperatura baixa e o maior comprimento de onda visível), passando por laranja, amarelo, branco até chegar a cores com tons azulados e o violeta, que possui o menor comprimento de onda no espectro visível (já em temperaturas muito altas).
A temperatura de cor leva em consideração a cor da luz emitida por este corpo. Iniciando as medidas no zero absoluto, a unidade de medida utilizada é o Kelvin, e o corpo negro é aquecido gerando diferentes cores de acordo com a sua temperatura. O Sol, por exemplo, se aproxima muito a um corpo negro radioativo com uma temperatura de cor de cerca de 5780K.
Definições Inversas
A escala física da temperatura de cor é diferente da escala cognitiva visual, por exemplo, ao ver a chama de um fogão a tendência é pensarmos que a amarela é a mais quente, quando, na verdade, é a chama azul.
Já quando falamos em termos visuais nos referimos a cores frias e quentes, sendo cores vermelhas e laranjadas as mais quentes e as azuis ou brancas as mais frias, devido a convenções cognitivas do ser humano.
É importante saber dessa inversão nos termos quando abordamos este tópico, fisicamente uma temperatura alta revela a cor azul, enquanto visualmente temos uma cor vermelha/laranja.
O Sol, apesar de ter uma temperatura de cor definida por volta de 5780K, sofre alterações na sua luz durante o dia devido a vários fenômenos físicos na atmosfera da Terra, isso causa diferentes temperaturas de cor em diferentes horários e condições meteorológicas.
Por exemplo, o Sol pode passar de 6500K em um céu aberto ao meio-dia para temperaturas por volta de 3000K ao final ou nascer do dia, as variações ocorrem por conta da mudança do ângulo em que os raios solares atingem a Terra, outros motivos, como um céu nublado ou com nuvens, também interferem na chegada e temperatura dos raios, partículas em suspensão, entre outros.
O Balanço de Branco na Câmera
Todo mundo que trabalha com vídeo provavelmente já sabe ou fez isso antes de uma gravação. “Bater o branco” é um procedimento bem simples, com a câmera sem foco em lugar nenhum o operador fecha seu quadro em algum objeto branco afetado pela luz ambiente, até mesmo uma folha de papel, e diz para a câmera que aquilo é branco.
Mas qual a necessidade disso? O vídeo a seguir mostra os resultados de diferentes balanços de branco em uma GoPro:
A câmera não pensa, é isto que você deve sempre manter em mente. Apesar de geralmente possuir tecnologia de ponta envolvida, as câmeras farão o que você mandar.
Portanto, você precisa “dizer” manualmente que aquilo no quadro dela é um objeto branco, dessa forma ela configura sua temperatura de cor automaticamente para que o branco sob aquela luz esteja ajustado na imagem captada.
Enquanto nossos olhos podem se ajustar a diferentes luminosidades e cores ambiente, a câmera não é capaz disso. Portanto, a cada mudança de iluminação é necessário que se faça o procedimento novamente, mais que isso, ao trabalhar com mais de uma câmera o processo torna-se essencial, seja para uma transmissão ao vivo ou para um produção que será editada posteriormente, isso garante a continuidade de cor nas cenas.
Só quem editou material com temperaturas de cor diferentes sabe como isso compromete (e muito) todo o processo, além de gerar a necessidade de corrigir os planos manualmente, não estamos falando do grading ainda e sim de corrigir a diferença entre os planos, o que provavelmente vai comprometer todo seu trabalho de correção de cor e te deixar com pouquíssimas possibilidades em um arquivo com compressão.
Não podemos esquecer que praticamente todas as câmeras possuem um ajuste automático de branco, e que muitas vezes ele funciona bem. Neste modo o sensor analisa o quadro como um todo buscando a predominância de alguma cor nas tonalidades que ele julga serem brancas.
Como é um processo automático, nem sempre o julgamento será correto e você precisará definir a temperatura manualmente, seja por presets ou definindo exatamente a temperatura da sua cena.
Gelatinas de Correção de Cor
Com a chegada dos LED’s, que conseguem entregar diferentes temperaturas de cor, as gelatinas talvez tenham ficado um pouco esquecidas por quem está começando no mundo do vídeo, mas sua utilização ainda é quase essencial em muitos casos onde fontes de luz com diferentes temperaturas de cor são utilizadas.
Por exemplo, você precisa fazer a luz de preenchimento de uma cena onde a luz principal é a solar, mas conta apenas com um fresnel de tungstênio para o serviço. Seria péssimo se você não pudesse usar seus equipamentos apenas por conta de temperaturas de cor diferentes. Para isto, temos duas gelatinas de correção de cor principais: a CTO e CTB.
CTB
As gelatinas CTB (Color Temperature Blue) servem para equalizar a temperatura de cor onde uma das fontes tem uma temperatura mais quente. Um exemplo seria uma sala onde a luz do Sol entra através de uma janela e temos apenas fresnéis com luzes de tungstênio, neste caso para equilibrar a temperatura devemos colocar as gelatinas em frente aos fresnéis.
Outro exemplo seria a gravação em um local que mistura lâmpadas de tungstênio com outras fluorescentes, você precisaria equalizar essa luz e isso poderia ocorrer tanto colocando gelatinas nas lâmpadas, quanto retirando as (lâmpadas) que não deseja usar.
É por isso que temos diferentes gradações de gelatinas CTB, temos a CTB full, 1/2, 1/3, 1/4, etc. Isso ajuda na hora de definir quantas gelatinas usar para fazer a luz chegar à temperatura que você deseja. Pois a ideia da gelatina é corrigir a cor e não afetar a iluminação cortando muitos stops quando não é necessário.
CTO
A CTO (color temperature orange) segue a mesma ideia da CTB, mas sendo utilizada de maneira inversa. Em uma sala onde a Sol invade com temperatura de cor muito alta e você precisa baixá-la, colocar gelatinas na janela é uma das soluções.
Ela também possui diferentes gradações, sendo possível achar gelatinas de 1/2, 1/4, 1/6 , etc. Sempre de acordo com as necessidades da iluminação. Há ainda várias outras gelatinas de correção de cor, mas a CTO e CTB acabam sendo as mais comuns e usadas.
Como Saber a Temperatura de Cor
Como já dissemos anteriormente, seus olhos se ajustam a qualquer situação de cor e luminosidade, então definir a temperatura de cor visualmente não é uma medição muito confiável, há várias tabelas com temperaturas de cor base que você pode utilizar para chegar à mais correta.
A maioria das câmeras possui um ajuste que começa no automático (AWB) e passa por temperaturas mais quentes como luzes de tungstênio, luzes fluorescentes, passando por dias ensolarados, sombras, nublados, até o ajuste manual de temperatura.
É importante saber que estas predefinições de temperaturas seguem padrões e não necessariamente irão equilibrar sua imagem. Por exemplo, durante um dia ensolarado o Sol passa por inúmeras temperaturas e definir “daylight” para uma cena do pôr-do-Sol irá gerar problemas de temperatura de cor posteriormente.
A temperatura de cor é mais uma variável que você controla durante sua gravação. Portanto, gravar com uma temperatura diferente do seu ambiente em busca de algum efeito desejado não é problema algum. Como qualquer variável de gravação, ela só se torna um problema quando você foge do padrão sem saber bem o que está fazendo ou sem um motivo para isso.
As temperaturas na tabela são padrões e podem variar um pouco devido a vários fatores, mesmo os refletores de cinema não darão a temperatura de cor indicada pelo fabricante assim que você ligá-los, eles precisam se aquecer primeiro.
Além disso, variações de corrente elétrica, temperatura excessiva ou muito baixa, e vários outros fatores, podem fazer com seus refletores diminuam ou aumentem um pouco suas temperaturas de cor.
O que é Daylight?
O padrão mais adotado é que a temperatura de cor com o céu azul seria por volta de 5600K. Por isso. essa medida em específico recebeu o nome de daylight (luz do dia).
O termo também se popularizou, pois as películas já vinham com sua temperatura de cor definidas, ficando a cargo do diretor de fotografia escolher a mais conveniente para a cena, seja daylight, tungstênio, etc.
No entanto, a denominação daylight pode variar um pouco chegando até níveis de 6500K, por exemplo:
Este é um Fresnel Daylight de 12K ou 18K (12K e 18K se referem à potência, neste caso) da Arri e, nas especificações, sua temperatura de cor correlata é de 6000K. Portanto, ao ouvir o termo daylight saiba que ele se refere ao conceito do Sol durante o dia, mas que cada lâmpada e fabricante poderá ter uma pequena variação dentro da “faixa” daylight.
A ideia por trás do conceito é simples, um refletor “calibrado” para gravações externas, dessa forma gelatinas não seriam necessárias (ou bem menos usadas).
O que é importante saber
É importante saber alguns níveis de temperatura de cor de cabeça, dessa forma você consegue resolver pequenos problemas diários sem ter de apelar ao Google e outras fontes de informação.
Saber as temperaturas de cor em luzes utilizadas em interiores de locações como tungstênio, fluorescentes quentes e frias, led’s, entre outras, irá agilizar bastante sua vida também.
Lembre sempre que misturar temperaturas diferentes poderá te gerar muitos problemas, desde uma imagem que não é o que você quer, a outros dilemas na pós-produção do seu filme.
Como em quase tudo relacionado a vídeo e cinema, não há uma regra dizendo que é proibido misturá-las, no entanto, caso queira fazê-lo, saiba bem sua motivação e também o que a mistura irá gerar na sua tela.