Fui ao Dolby Cinema e sobrevivi!
Neste artigo eu quero compartilhar com você minha experiência de assistir a um filme numa das melhores salas de cinema do mundo (se não for a melhor): Dolby Cinema.
Onde é Eindhoven?
Caso você não saiba ou não me conheça, eu sou brasileiro, mas moro na Cidade de Eindhoven, na Holanda, há 6 anos. Entre outras coisas que você pode ter ouvido falar desta cidade, é do time de futebol, o PSV Eindhoven, onde jogaram o Ronaldo Fenômeno e o Romário. Também é a cidade onde foi fundada a Philips (que dá o nome ao time – Philips Sport Vereniging) e é hoje a região com maior concentração de profissionais com educação superior ao diploma universitário (mestrado, doutorado, etc) no mundo. É uma tremenda cidade para se morar!
Muitas coisas bacanas acontecem por aqui, e a última foi a instalação da primeira sala Dolby Cinema do mundo, no novo complexo da JT cinemas no centro da cidade. Já existia uma sala IMAX por sinal que fica a 300 metros da nova e da qual eu sou freqüentador assíduo desde a abertura!
Então, o que é Dolby Cinema e Dolby Atmos?
Dolby Cinema é um novo conceito de cinema da Dolby Laboratories e é considerado uma resposta direta aos Cinemas IMAX. Eu vou te contar mais sobre os aspectos técnicos mais abaixo.
Dolby Atmos é uma nova tecnologia de áudio surround. Numa mixagem normal os elementos de áudio são todos mixados em 5.1 ou 7.1 canais para exibição num cinema ou home theater. Com o Dolby Atmos, cada um dos elementos da mixagem (uma abelha voando, o vento, gotas dágua caindo no chão), é uma faixa de áudio isolada com informação de posição 3D dentro da sala. O posicionamento do áudio é feito de acordo com a sala em tempo real pelo processador Atmos e pode ser diferente para diferentes salas de cinema, sempre resultando na melhor mixagem possível.
E como é o Cinema?
O hall principal do cinema é bem moderno e chique, mas não tem nada que não se encontre em outros cinemas.
A coisa muda quando se chega na entrada da sala Dolby Cinema (que é a última do corredor). Logo na entrada há um longo corredor com projeção por toda a lateral com um animação em loop e o logo da Dolby. Todo o carpete do chão, paredes e teto são absolutamente pretos. Embora esta entrada não adicione nada ao filme, ela com certeza influencia a experiência geral.
Dentro da sala, novamente, tudo é preto. No chão, carpetes pretos, nas paredes e no teto, tecidos pretos atrás dos quais estão escondidas 64 (sessenta e quatro!!!) caixas de som. As poltronas são super confortáveis – as da frente até reclinam – e adivinha a cor delas… pretas.
Então por que tudo é preto dentro da sala Dolby Cinema? Porque a sala está equipada com projetores muito potentes, e o material preto no cinema impede que a luz da tela ilumine o cinema todo e com que essa luz difusa voltando da sala atrapalhe a qualidade da projeção. Ou seja, a única luz que deve atingir a tela é a luz vinda diretamente do projetor e não luz refletida. Até as luzes das escadas e os números das cadeiras são posicionados especialmente para não atingirem a tela.
Antes de te contar como é a experiência, quero dizer que depois do filme tive a oportunidade de visitar a sala de projeção, então…
O que tem na sala de projeção?
A sala de projeção (como a maioria das que eu já visitei) é uma sala pequena, paredes de concreto pintadas de preto, uma plataforma onde ficam os projetores e alguns racks de equipamentos.
Então começando pelos projetores: na plataforma próxima à janela por onde sai a luz, estão dois projetores laser da marca Christie, com resolução 4K DCI. Para cada um destes projetores existe a parte do projetor (sem o laser) e o laser em si está em um rack separado, que manda o sinal luminoso através de fibra ótica para o projetor.
Atrás dos dois projetores laser, há mais um projetor Christie DLP com luz de Xenon (o mais comum em cinemas digitais) que serve de backup para os outros dois, mas que segundo o gerente só foi usado para testes.
Estes dois projetores Christie são projetores desenvolvidos numa parceria entre a Christie e a Dolby e são chamados de “Dolby Vision”. São projetores laser de 6 primárias (o conjunto), sendo que o projetor do olho direito emite luz num comprimento de onda ligeiramente diferente do projetor do olho esquerdo, e esta diferença é filtrada pelo óculos Dolby 3D para permitir que apenas a luz de um dos projetores chegue a cada um dos olhos do espectador.
Estes projetores também são capazes de projeção HDRi e tem um contraste muito maior do que qualquer outra tecnologia de projeção do mercado.
Quando cheguei perto da plataforma dos projetores, o gerente que estava nos levando para o “tour” gentilmente pediu que eu não tocasse, e muito menos pisasse na plataforma. Os projetores estão perfeitamente alinhados e qualquer movimento é o suficiente para tirá-los do alinhamento.
Perguntei quanto tempo demora para alinhar os projetores… Apenas alguns minutos, mas o sistema de projeção faz tudo sozinho utilizando uma câmera instalada dentro da sala de cinema. E isto acontece todo dia antes da primeira projeção automaticamente.
Além dos projetores, havia os racks com processadores e amplificadores de áudio. Como a visita foi um tanto rápida, não consegui identificar o que eram e nem quantos eram, mas só de áudio eram dois racks de 1,80 m de altura com equipamento em todas as baias.
Esta sala de projeção é exclusiva para a sala Dolby Cinema então não há nela nenhum equipamento de outras salas de projeção.
E quantos projecionistas trabalham lá?
Vendo todo o equipamento, imediatamente me veio à cabeça esta pergunta: Quem controla tudo isso? Quem é o projecionista? E o gerente me respondeu: Eu mesmo!
Sim, além de ser o gerente do cinema, ele controla não só esta sala mas todas as salas do complexo através do app da Dolby em um iPad Air. Não só a projeção, mas também iluminação interna e externa e abertura e fechamento de portas!
udo pode também ser agendado para funcionar sozinho ou controlado via internet (ao invés da rede wi-fi interna)
Uma vez configurados pelos técnicos, ninguém precisa mexer em nada, na verdade ninguém precisa nem entrar nas salas de projeção!
Então, finalmente, como foi a minha experiência?
Eu fui (junto da minha esposa, Anna Beatriz) assistir ao filme “Hobbit 3: A Batalha dos Cinco Exércitos” em High Frame Rate (HFR ou 48 quadros por segundo) e 3D.
primeira coisa que notamos é a tela. A tela é absurdamente clara, muito mais clara do que as telas de salas IMAX que eu já visitei. Os projetores laser conseguem projetar em 3D com a mesma luminosidade que um cinema poderoso projetaria em 2D. O normal de uma projeção é 14 foot-lamberts para 2D e 3 foot-lamberts para 3D mas no Dolby Cinema a projeção é 14 foot-lamberts em 3D.
Antes do filme começar eles projetam uma demonstração curta do sistema de som Dolby Atmos, que também é muito impressionante. A principal inovação desta tecnologia é a capacidade de posicionar objetos no espaço 3D dentro da sala. Se antes tínhamos som vindo das paredes e da tela, agora temos sons que parecem estar saindo de algum ponto no espaço da sala. Um helicóptero não passa mais ao redor da sala, mas sim ao redor da sua cabeça, mais perto ou mais longe. O efeito é muito claro e adiciona muito à experiência do filme.
O som está num volume que eu diria ser o limite para causar dano aos ouvidos (saí sem zumbido, mas achei que foi por pouco), ainda assim os graves são fortes o suficiente para chacoalhar os assentos (não é vibrar, é chacoalhar mesmo!).
Voltando à imagem, o filme foi projetado em 4K a 48 quadros por segundo. Se a resolução de 4K já é um salto em definição da imagem, 48 quadros por segundo dá mais um salto em definição (sim amigos, maior taxa de quadros significa maior resolução percebida). A imagem do filme é estupidamente bem definida e eu entendo como isso pode não agradar alguns. Podemos comparar a experiência tradicional de cinema a 24 qps com projeção 2K com uma experiência surreal que fica entre fantasia e realidade e a projeção 4K 48fps com uma experiência hiperrealista com detalhes impressionantes.
Em alguns momentos a imagem me lembra as novelas ou séries da BBC que tem praticamente a mesma cadência (50 quadros por segundo, ao invés de 25) e muita resolução. Mas a partir do momento em que você se acostuma com isso e passa a prestar a atenção na história, o filme passa a ser envolvente como sempre.
As cores e o contraste também são impressionantes e incomparáveis com uma projeção tradicional.
E finalmente a conclusão…
Dois dos meus maiores ídolos são a dupla de mágicos Penn & Teller. Em um de seus shows de TV, eles convocaram mágicos europeus para tentar “enganá-los” com suas mágicas. O show chama-se “Fool Us”, que pode ser traduzido para “Me Engane”. Se você gosta de mágica, é imperdível!
Neste show o Penn (que é o único que fala na dupla) diz que eles não fizeram este show por que querem aparecer como os maiores mágicos do universo, e nem se sentir como juris de reality show. Ele diz que a melhor sensação que você pode ter em relação à mágica é quando você é criança e alguém faz uma mágica e você não tem a menor idéia de como foi feita, ou se é mágica de verdade ou não. Eles queriam ter essa sensação novamente.
A experiência que eu tive com o Dolby Cinema foi semelhante. Enquanto eu normalmente assisto filmes prestando atenção em detalhes técnicos, trilha sonora, roteiro, etc. Neste caso fui totalmente absorvido não só pela história (que nem é meu assunto preferido) mas por toda a experiência e todo o estímulo visual, auditivo e até físico, porque, como eu disse, as cadeiras chacoalhavam com os graves.
Se você já assistiu Hobbit 3, tente imaginar a cena do dragão queimando a cidade com um dragão em 4K chacoalhando tudo e fazendo um mega barulho.
Saímos do cinema atordoados com aquela sensação de “que catzo que acabou de acontecer?”, provavelmente que pelo excesso de estímulo durante quase as 3 horas de filme.
Foi uma noite inesquecível e eu já estou planejando a próxima visita para assistir “Jupiter Ascending”, que é o filme em cartaz no momento!