Como fotografei uma erupção junto à Via Láctea

Tradução do post original de Albert Dros, mais informações ao final da postagem. 

Há algumas semanas viajei para a Guatemala para tentar fotografar a erupção do “Fuego”, um vulcão ativo que fica nos limites de uma pequena cidade chamada “Antigua Guatemala”. Mas não queria apenas fotografá-lo em erupção, queria alinhar a erupção à Via Láctea para criar algo único.

Planejei tudo cuidadosamente utilizando todas as ferramentas que possuía à minha disposição. Primeiro utilizei o PhotoPills para planejar o posicionamento da Via Láctea, depois utilizei as ferramentas que encontrei no Volcano Discovery, que permitem monitorar vulcões em atividade ao vivo utilizando sismógrafos e webcams.

Por fim, liguei várias vezes para o serviço de meteorologia da Guatemala para obter recomendações sobre o tempo acima de 3000m. Quando a previsão era de céu aberto combinado a muita atividade, entrei em ação.

Fiz este plano algumas semanas antes de ir para a Guatemala, era o plano para 30 de março de 2017, no entanto, ele não mudaria tanto para os dias próximos a esta data

Como é possível ver na imagem acima, a Via Láctea estaria à direita do vulcão “Fuego” por volta de três da manhã quando visualizada do vulcão “Acatenango”, que era de onde eu estava planejando e visualizando esta etapa mentalmente, pude ver como a melhor fotografia poderia ocorrer.

Equipamentos

Eu sabia que não seria uma escalada fácil, então tive de manter meu equipamento leve, mas com uma boa entrega de imagem. Também ouvi algumas histórias sobre assaltos a turistas em vulcões na Guatemala, isso foi o que mais me preocupou ao levar equipamento mais caro.

Escolhi colocar meu equipamento em uma mochila bem antiga e que não aparentasse levar algo caro dentro, por causa do meu kit leve e pequeno eu não chamava muita atenção.

Precisava de um tripé, mas nenhum que desse na cara “sou um fotógrafo”, então trouxe um Mefoto pequeno para viagens, ele poderia entrar na minha mochila e ninguém o veria. Os equipamentos que levei foram:

  • Sony A7RII corpo
  • Sony Zeiss 16-35 f/4 para planos em geral
  • Sony Zeiss 55 f/1.8, lente fixa e leve, perfeita para horizontes noturnos
  • Sony 85 f/1.8, boa para planos mais próximos
  • Samyang 14mm f/2.8, minha lente para os panoramas da Via Láctea
  • Mefoto A350

Ingredientes Necessários

  1. O dia correto em que a Via Láctea estaria “sobre” o vulcão Fuego, tendo como referência o vulcão Acatenango, isto seria por volta do final de março.
  2. Uma noite de céu limpo e sem nuvens
  3. Próximo à Lua nova, para enxergar melhor as estrelas.
  4. O mais importante: sorte. Especificamente, eu teria de obter uma boa erupção no momento certo. Digo “momento certo”, pois descobri que seria extremamente difícil obter estrelas e lava com uma exposição apropriada de uma vez, por causa da enorme diferença de contraste. Para conseguir a fotografia perfeita, teria de executá-la entre o final da “hora azul”* durante o pôr do Sol ou no comecinho do nascer dele.

Este gráfico apresenta a atividade sísmica do vulcão “Fuego” a cada hora, ele é atualizado em tempo real e eu o checava todo dia. Fonte: http://webcams.volcanodiscovery.com/Fuego

Visão geral de atividade radioativa mostrando a atividade do “Fuego”. Como é possível notar na imagem, houve grande atividade nos dias anteriores à foto, o que aumentou a chance de sucesso. No começo de março a atividade do vulcão foi bem baixa. O radar também mostra uma atividade bem alta no começo de abril. Fonte: http://webcams.volcanodiscovery.com/Fuego

Finalmente, após uma escalada muito difícil e íngreme, cheguei ao Acatenango no dia seguinte pouco antes do pôr do Sol. Havia muitas nuvens e eu mal conseguia ver o Fuego à sua frente, no entanto, elas se movimentavam com rapidez e eu sabia que provavelmente iriam se dissipar. Foi o que aconteceu.

Quando eu vi o vulcão entrando em erupção tão perto, combinado ao poderoso som que ele produziu, simplesmente fiquei paralisado. Foi incrível. Foi literalmente o fenômeno natural mais impressionante que já havia visto.

Um erupção enquanto o Sol se punha, entregando uma bela luz lateral ao Fuego. Havia ainda algumas nuvens baixas neste momento, elas se dissipariam mais à frente. Sony A7R2, Sony 85mm f/1.8, f/8, 1/250s, ISO 100. Imagem: Albert Dros

Minha pesquisa valeu a pena e todos os elementos que eu precisava para criar a imagem começaram vagarosamente a se alinharem, é um sentimento fantástico quando as coisas ocorrem conforme planejado.

Quando começou a escurecer, o espetáculo de verdade teve início. Conforme o Fuego continuava com as erupções, o brilho da lava tornou-se visível. Parecia algo que você só vê em filmes.

Sony A7R2, Sony 85mm f/1.8, f/3.5, 4s, ISO 200. Imagem: Albert Dros

Outro cara de sorte apreciando o vulcão fumegante. Sony A7R2, Sony Zeiss 16-35 f/4, f/5.6, 1/15s, ISO 250. Imagem: Albert Dros

Pura escuridão durante a noite, o que dificulta as fotografias por causa do contraste alto. Sony A7R2, Sony 85mm f/1.8, f/2, 4s, ISO 3200. Imagem: Albert Dros

Este é um exemplo do enorme contraste entre a lava e o céu durante a noite, é extremamente difícil fotografar expondo apenas uma vez. Na foto acima a lava está superexposta, enquanto o resto da imagem está escura.

Para obter planos legais com a Via Láctea, tive de esperar o começo da “hora azul” pela manhã e torcer por uma boa erupção. Durante este período parte da Via Láctea se alinhava ao vulcão também.

Panorama do início da noite na minha cabana, esta foto foi tirada por volta de 21h. Sony A7R2, Samyang 14mm f/2.8, totalmente aberta em f/2.8, 25s, ISO 6400, panorama de várias imagens. Imagem: Albert Dros

Panorama do vale com a Via Láctea ao longo dele e o Fuego em erupção, tirada por volta de 02h. Sony A7R2, Samyang 14mm f/2.8, totalmente aberta em f/2.8, 25s, ISO 4000, panorama criado a partir de várias imagens. Imagem: Albert Dros

O plano perfeito: Fuego em erupção com a Via Láctea alinhada a ele. Sony A7RII com Sony Zeiss 55 f/1.8, em f/ 1.8, 10s, ISO 3200. Exposição única, tirada durante o começo da manhã na “hora azul”. Imagem: Albert Dros

Plano mais próximo do vulcão em erupção durante a hora azul, as estrelas começam a desaparecer. Imagem: Albert Dros

Durante o nascer do Sol o vulcão continua a expelir alguma lava, mas nada extremo. Imagem: Albert Dros

O Fuego nos ofereceu um belo adeus com algumas erupções mais potentes durante a manhã que cobriram completamente o vale com fumaça e cinzas. Imagem: Albert Dros

Todas as imagens que você vê aqui ainda não fazem jus à realidade. Ver o vulcão em erupção durante a noite é uma das coisas mais bonitas que já visualizei. Na sequência algumas fotos que tirei com meu smartphone (Sony Xperia XZ):

Imagem: Albert Dros

Imagem: Albert Dros

Imagem: Albert Dros

Imagem: Albert Dros

Imagem: Albert Dros

Imagem: Albert Dros

*”Hora azul” significa o momento no nascer ou pôr do Sol onde ele está razoavelmente afastado do horizonte e seus raios remanescentes geram um tom azul muito intenso no céu.


Albert Dros é um jovem fotógrafo de 31 anos que já teve seu trabalho publicado em locais como Time, Huffington Post, Daily Mail, National Geographic, entre outros. Para conhecer mais sobre seu trabalho é possível acessar seu website clicando aqui, ou suas mídias sociais como Instagram e Facebook. O post foi traduzido e adaptado para o português com a autorização de Albert, para acessar o original, basta clicar aqui

 

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Graduado em Imagem e Som pela UFSCar e especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela Mackenzie. Parte de seu portfólio está disponível em: https://www.behance.net/gustafonseca. Quer entrar em contato? Envie um e-mail para gustavof.gustavo@gmail.com.

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