O que Tom Hanks tem a dizer sobre ser ator?

Indicado ao Oscar de melhor ator cinco vezes e ganhador do prêmio por duas, Tom Hanks é uma das figuras que melhor definem o prazer de fazer papéis com profundidade e motivações que vão além de “pagar as contas”. Mas nem tudo foi simples na carreira do ator e ele contou um pouco mais sobre como amadureceu ao longo dos anos nesta entrevista para o BAFTA Guru.

Como você começou?

Tom Hanks: Eu tive sorte, pois estava estudando teatro na Universidade e consegui um trabalho antes de me formar. Não era bem um emprego, era só uma oferta para trabalhar em um teatro, cujo pagamento seria a experiência que ganharíamos durante este trabalho. Havia um grupo de pessoas e fomos, sabíamos que estaríamos lá por quatro ou cinco meses, sabíamos que faríamos algo em cinco ou seis produções que estavam no repertório e só esta atividade já era o suficiente para ir, eu não tinha noções preconcebidas de nada, havia guardado dinheiro suficiente para sobreviver mais ou menos e algo poderia dar certo e na verdade acont… a parte de ir foi o aspecto mais importante disso tudo, pois fui e depois que estava lá havia uma produção que precisava de um elenco maior do que os profissionais poderiam preencher e que a empresa poderia prover. Como eu estava lá acabei sendo pago, $50 dólares por semana, que foi a diferença entre a vida e a morte! Hahaha eu sempre pensei que havia algo no horizonte que poderia aparecer e me ajudar a passar os próximos meses, mas enquanto isso rola a única coisa que você possui é sua fé e seu instinto e aquela janela mais tranquila que você consiga gerar para si, sabe, fazer dinheiro o suficiente para pagar o aluguel, eu estava casado e tinha um filho nesta época, então sempre precisei pensar “bom, tenho oitocentos dólares no banco, acho que estou tranquilo por mais três meses”.

Filadélfia (1993) rendeu o primeiro Oscar ao ator. Foto: Tristar Pictures

Qual conselho você daria à sua versão mais jovem?

Tom Hanks: Eu operava em um certo nível de instinto e energia, que talvez eu diria a mim mesmo: se agora você está colocando 60% de energia e 40% de instinto, inverta as quantidades, torne 60% de instinto e 40% de energia. Eu só era barulhento, só era rápido e meio que sobrecarregava o processo com esta passada acelerada que era a única velocidade com a qual eu sabia trabalhar e… você aprende como começar a examinar o texto de uma forma diferente quando você tem quase certeza que terá a oportunidade de trabalhar de novo e quando terminei meu terceiro ano naquela companhia, estava em Nova Iorque e trabalhando em outras mídias, eu ainda não havia aprendido como trabalhar de uma forma mais lenta, examinando o texto, ainda estava tentando dizer que consegui o papel pois falava alto, era rápido e engraçado. Eu ficava nisso, poderia aprender alguns anos antes como gastar o tempo necessário e fazer o trabalho interior que você pode fazer sozinho, apenas ao estudar o texto, antes disso eu apenas aprendia o texto e fazia, o contrário de realmente planejar uma abordagem.

Forrest Gump (1994) deu o segundo Oscar ao ator. Foto: Paramount Pictures.

Qual conselho você daria a novos diretores trabalhando com atores?

Ton Hanks: Diretores já nascem do jeito que são, todo diretor com o qual trabalhei sempre foi completamente diferente dos outros. Alguns falam bastante com você, outros quase não falam contigo, alguns fazem ensaios com você com literalmente fita no chão e o texto em suas mãos e outros não te colocam em nenhum ritmo até você aparecer durante o dia, eu diria a qualquer diretor para escolher bem o elenco, você precisa acreditar no elenco que contratou, não os dê o trabalho caso você ache que eles não… caso você não tenha fé no que vão entregar e sinta-se livre para falar, algumas das melhores direções que recebi foram algo como “podemos tentar algo diferente?”, é um direcionamento totalmente legítimo para se receber e algumas vezes só precisamos disso. Além disso, planeje as gravações para que consiga seus planos, seja organizado. Sinceramente, seja organizado.

Quero ser grande (1989) foi a primeira indicação do ator ao Oscar. Foto: 20th Century Fox

Como você escolhe seus projetos?

Ton Hanks: No começo eu já estaria radiante de alguém pedir que eu estivesse em algum filme, achava que isso era todo o necessário e enquanto continuassem me chamando, tudo daria certo. Acho que tive de ficar insatisfeito com meu próprio processo, durante cinco ou seis filmes onde eu sentia que não estava trazendo para o trabalho nada além daquele instinto. Foi quando eu percebi que parte de mim havia envelhecido… e acho que mesmo que você tenha 29 anos, você tem uma visão e perspectiva diferentes… uma, acredite ou não, sabedoria diferente da que tinha com 24 anos. Acredito que a cada cinco anos eu passo por um processo de reexaminar onde eu estava na vida como homem e como ator e começo a pensar “sabe, tenho 36 anos agora e há um mundo de filmes que não posso mais fazer, pois eu não quero interpretar o jovem que está tentando entender a vida, quero interpretar um homem com um comprometimento amargo, alguém que passou por algo, acho que é um processo sem fim de examinar onde você está na vida como ser humano e transpor como isso irá afetar o seu trabalho de alguma forma.

O resgate do soldado Ryan (1999) também rendeu uma indicação ao Oscar. Foto: Amblin Entertainment

Náufrago (2000) foi a última atuação de Tom Hanks indicada ao Oscar do ano seguinte. Foto: 20th Century Fox e Dreamworks L.L.C

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Graduado em Imagem e Som pela UFSCar e especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela Mackenzie. Parte de seu portfólio está disponível em: https://www.behance.net/gustafonseca. Quer entrar em contato? Envie um e-mail para gustavof.gustavo@gmail.com.

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