Protocolo de Câmera – DSLR

Aqui no Cinematográfico já citamos que a execução de um filme é feita por dezenas ou centenas de pessoas executando protocolos muito específicos de suas áreas, agora chegou o momento de falarmos um poucos mais sobre protocolos de câmeras DSLR.

Quem é Shane Hurlbut

Mas antes de começarmos a falar do protocolo especificamente, é legal introduzir a pessoa que está no vídeo que serve de base. Ele é Shane Hurlbut, diretor de fotografia de filmes como: O exterminador do futuro – A salvação, Need for Speed, Ato de Valor, Somos Marshall, O Melhor Jogo da História, entre outros.

Ele é um dos poucos profissionais neste nível de produção que compartilham seu conhecimento de set abertamente com quem quiser aprender pelos seus canais e workshops.

Seu trabalho foi guiado por câmeras de película por mais de vinte anos, além de câmeras/lentes de altíssimo nível em todo momento, mas durante seu contato com DSLR’s ele pôde passar algumas observações sobre o que seria um protocolo ideal para estas câmeras:

Lembrando que por produzir cinema suas dicas serão voltadas para a produção em set, o que não substitui a utilidade de muitas delas em outros ambientes. No caso de quem trabalha com eventos é interessante executar todos os protocolos em conjunto com os outros operadores e antes do início das gravações, ou então informar os padrões utilizados no caso de um operador trabalhando em sua primeira diária.

Conheça Seu Sistema

O protocolo utilizado em gravações com película é muito diferente do utilizado em gravação com câmeras digitais. Consequentemente, o utilizado em DSLR’s precisa ser ainda mais adaptado e específico para este tipo de câmera.

Em 35mm você tem seu fotômetro, define seu ISO, ângulo do obturador, velocidade de quadros, o filme que você quer na câmera, fabricante e tipo, checa a abertura, grava, define o processo de revelação, etc.

Já com uma DSLR esse tipo de protocolo se transforma em um “Protocolo de Menu”, é necessário assegurar que sua câmera esteja no modo manual e então checar sua temperatura de cor, velocidade de obturador, aqui cabe uma digressão para uma dúvida muito comum: por que Shane indica uma velocidade de 1/50?

As câmeras de cinema que utilizam película possuem um obturador rotacional que é regulado de acordo com a sua angulação, sendo 180º a medida mais comum adotada nestes equipamentos que gravam a 24 quadros por segundo. Com a volta completa de 360º, isso leva a uma exposição de meio “tempo rotacional” utilizando o obturador nesta posição. O ângulo dele atua diretamente no tempo de exposição da película, chegando à equação:

equacao angulo de obturador

Imagem: Wikipedia

O equivalente mais próximo a isso seria 1/48 a 24 quadros por segundo (mantendo a taxa de quadros tradicional do cinema). Isso afeta diretamente o desfoque de movimento do que está sendo gravado, sendo assim:

Uma cena a 1/4 irá gerar bastante desfoque no que se movimentar em quadro a 24 qps.

Uma cena a 1/48 irá gerar um desfoque mais próximo ao que estamos habituados a ver no cinema a 24 qps.

Uma cena a 1/180 irá gerar bem menos desfoque em tudo que se movimentar a 24 qps.

Isto é uma regra ou obrigação? De modo algum. O importante é saber qual a velocidade escolhida e o que irá obter com ela, apenas isso. Além do desfoque, a velocidade também influencia na quantidade de luz que atinge o sensor, sendo um dos componentes da exposição. A RED tem uma publicação bem didática sobre o assunto.

Voltando agora ao protocolo DSLR, é também necessário verificar o ISO da cena, assim como Picture Style da câmera. Quando trabalhamos com mais de uma câmera é importante deixar todas na mesma temperatura de cor, picture style e assim por diante.

Não necessariamente os quadros por segundo e velocidade de obturador serão os mesmos em todos os momentos, mas você deve saber quando e porquê houve a variação em um dos dois ou em ambos.

Utilizando Etiquetas

Neste processo cada câmera é definida por uma letra e algumas são colocadas no corpo dela para serem coladas ao cartão SD assim que ele for retirado. Neste formato a organização seria:

Você define a câmera como “A” colocando uma etiqueta na frente dela com a letra, ao lado e próximo aos cartões você coloca algumas etiquetas, no caso do vídeo são três, com as letras “A1, A2 e A3”. Dessa forma, ao tirar o cartão da câmera você remove a etiqueta e cola nele. Assim, quando o material chegar ao logger ou pessoa responsável pela edição, ela conseguirá dividi-lo sabendo exatamente de qual câmera veio cada um.

É possível criar essa organização com os cartões SD e câmeras já etiquetados, neste caso é preciso organizar apenas câmeras e cartões antes do início da gravação. Por exemplo:

Você possuí três câmeras na gravação: A, B e C. Antes do início do evento ou gravação você separa e entrega aos operadores de câmeras os cartões utilizados para cada câmera, caso sejam três cartões, por exemplo, o operador da câmera A teria: A1, A2 e A3. O número de cartões irá variar de acordo com a especificidade da sua gravação e é possível entregar um cartão neutro chamado de “A Backup” para ser utilizado caso algum dos outros cartões apresente problemas.

Dessa forma, você sabe de qual câmera e cartão veio o material, qual seu profile e qual delas apresenta qualquer problema ou variação técnico caso ocorra, além, é claro, de saber quais os cartões de cada operador.

Conheça o Limite do seu Equipamento

Este vídeo foi gravado há cinco anos, o que o leva a dar uma atenção especial ao aquecimento das câmeras, um problema que já foi superado ou minimizado ao longo do tempo (claro, ele ainda pode ocorrer, mas em menor escala).

Mas o olhar atento para a qualidade do material obtido é algo essencial até hoje, perceber se a sua câmera acaba perdendo um pouco de qualidade em situações extremas ou quando usada demasiadamente é importante para não se surpreender com uma variação de cor ou luz na pós-produção.

Cada câmera possui limitações específicas, por isso testar o limite do ISO da sua câmera, ou a profundidade de campo da sua lente 50mm f/1.8 totalmente aberta, gera informações essenciais para a definição de protocolos durante a gravação.

No caso do ISO, por exemplo, o conhecimento evita ultrapassar o limite estético da câmera, evitando a captação de imagens com ruído excessivo. Já com a lente, muitas vezes uma abertura tão alta pode deixar o foco extremamente difícil de ser mantido, sabendo disso é possível deixar a abertura em um limite que possibilite a manutenção do foco.

Organização e Competência

Essas foram algumas dicas sobre como montar um protocolo de câmera para DSLR’s, quanto mais específico e atento for este processo, mais coeso será o resultado em trabalhos complexos ou por uma equipe grande.

Há inúmeras variações nos processos de cada profissional, o que deixa a pergunta: e você? Aplica um protocolo definido antes das gravações? Qual o seu passo a passo antes de dar rec?

 

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Graduado em Imagem e Som pela UFSCar e especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela Mackenzie. Parte de seu portfólio está disponível em: https://www.behance.net/gustafonseca. Quer entrar em contato? Envie um e-mail para gustavof.gustavo@gmail.com.

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